Latour entrevistado por antropólogos (2004)
LATOUR, Bruno. 2004. Por uma antropologia do centro. Mana 10(2):397-414.
SEGUNDO EMPIRISMO:
meu objeto é o estudo dos matters of concern, a invenção de um certo empirismo — um segundo empirismo, digamos, que não tem a ver simplesmente com os objetos, no sentido tradicional do empirismo, mas com os matters of concern, com as coisas que constituem causas, em oposição aos objetos (Latour 2004:398).
LATOUR NA ANTROPOLOGIA:
afora Descola e Viveiros de Castro, um pouco Sahlins, o impacto da antropologia das ciências como a que faço sobre a antropologia geral é, creio, nulo. (Latour 2004:399)
Quando Viveiros de Castro inventa sua história de “multinaturalismo”, ele chuta o pau da barraca. Isso é certo. Assim, depois disso, a antropologia deve se refazer. Mas quais são aqueles que têm consciência desse problema, além das três pessoas já mencionadas? (Latour 2004:400)
DESCOLA:
Descola tem muitas qualidades, mas sua política é completamente clássica. (Latour 2004:401)
ÍNDICES:
eu não possuo signos, possuo índices que reinterpreto sob outra ótica.(Latour 2004:)
OS BRASILEIROS:
Os brasileiros são interessantes porque eles jamais acreditaram, no final das contas, nessa história de purificação. Eles possuem uma visão que difere daquela do modernismo dos franceses. (Latour 2004:403)
O RECINTO MODERNISTA (uma questão técnica):
Quando se está no recinto modernista, é possível fazer experiências sobre as ontologias que não se pode fazer quando se está no terreno do animismo. É essa a diferença crucial, é essa a particularidade do naturalismo. Mas aqui há uma questão técnica que tomaria muito o nosso tempo. (Latour 2004:403)
MODERNIDADE e ENERGIA:
É preciso levar em conta as energias das experiências modernas. (Latour 2004:404)
EMANCIPAÇÃO:
Pois é, estamos reconectados. Os outros sabiam. Isso não causa espanto aos outros. E aqui há uma verdadeira diferença. Os outros nos dizem: “Welcome back!”. Nós lhes perguntamos: “Vocês não são emancipados?”. E eles respondem: “Não! Nós sabíamos. Nós, os outros, sabíamos um pouquinho das coisas”. (Latour 2004:404-5)
COSMOPOLÍTICA:
O problema é: será que podemos viver no mesmo planeta, sabendo que temos definições completamente diferentes sobre o planeta, sobre o que é viver e o que é estar junto? E, nesse ponto, a comparação deixa de ser intelectual, para ser uma comparação que podemos chamar, com Isabelle Stengers, de cosmopolítica (Latour 2004:405)
MATTERS OF FACT (fatos indiscutíveis) e MATTERS OF CONCERN (fatos discutíveis):
Essa oposição está por toda parte. Fatos indiscutíveis são substituídos por fatos discutíveis. (Latour 2004:406)
O OBJETIVO:
O objetivo da antropologia não é opor o discurso oficial ao discurso oficioso, mas estudar os dois. E explicar por que o primeiro permite uma parte do segundo ao mesmo tempo em que impede o seu desenvolvimento. (Latour 2004:407-8)
DEMOCRACIA DAS COISAS:
não se trata apenas da representação dos centros da vida política em torno da eleição e da autoridade, mas a representação também no sentido bem conhecido “dos instrumentos que representam as coisas de que falamos”. Assim, a questão da democracia atual não é apenas saber se nós votamos ou não, se estamos ou não autorizados pelas pessoas que nos elegeram, o que é a primeira parte da representação, mas também a de saber como, quando falamos do milho transgênico, essa coisa de que falamos é representada, desta vez no interior do recinto. Por isso, a “democracia das coisas” quer dizer, justamente, o duplo interesse pelos dois sistemas de representação: representação dos humanos que falam das coisas, e representação das coisas de que os humanos falam, em seus recintos. […] A democracia das coisas é transportar de um modo confiável as coisas de que falamos e, por outro lado, estar autorizado para falar delas por meio de um procedimento social. […] O que eu quero fazer
nessa exposição é justamente dizer que há um duplo fenômeno de representação: representação do lado das coisas, e representação do lado das pessoas, e que é precisamente isso o que chamo de democracia. (Latour 2004:408-9)
O DIPLOMATA:
O diplomata é aquele que se engaja em questões sem saber ao certo em que coisas crer antes de iniciada a discussão. Assim, ele é obrigado a trabalhar de ambos os lados, tanto o daqueles para quem ele trabalha, como o daqueles a quem ele se endereça. (Latour 2004:410)