A agência social dos elementos químicos

Pedro P. Ferreira


A thousand plateaus (Marc Ngui 2013)

O programa de pesquisa “A agência social dos elementos químicos” propõe concentrar investigações voltadas para as múltiplas formas de participação dos assim-chamados “elementos químicos” em processos e eventos humanos e sociais. Químicos e físicos já confirmaram experimentalmente, até o presente, a existência de 118 elementos químicos diferentes. São 118 agentes sociais não-humanos aos quais diferentes efeitos e ações socialmente significativos podem ser atribuídos ou associados – e efetivamente o são, com maior ou menor frequência. O objetivo deste programa de pesquisa é jogar luz sobre esta vida social dos elementos químicos, sobre as formas pelas quais eles participam ativamente da vida humana em sociedade.

Certamente, é possível ignorar completamente a existência de elementos químicos (esta é, afinal, a situação da maior parte da humanidade durante a quase totalidade de sua história), mas é muito difícil ignorar os efeitos de sua agência quando se vive num mundo social que já os inclui entre seus agentes. Em outras palavras: a existência de expectativas sociais de que elementos químicos sejam reconhecidos como agentes aos quais se deve atribuir processos relevantes (expectativas verificáveis, por exemplo, nos currículos escolares, nos manuais de primeiros socorros, na legislação, na cultura etc.) transforma o desconhecimento deles, e de sua agência, em uma desvantagem, ou mesmo num problema. Ao promover a investigação da agência social dos elementos químicos, este programa de pesquisa busca multiplicar as oportunidades de interface e sinergia entre diferentes processos humanos e sociais, e a parte que neles desempenha elementos químicos específicos.

Assim, além de exigir formulações teórico-conceituais e metodológicas pouco ortodoxas nas ciências sociais, este programa de pesquisa também pressupõe um engajamento ativo na promoção daquilo que poderíamos chamar de “cultura tecnocientífica”: uma intuição, formulável simbolicamente e compartilhada culturalmente na forma de valores, sobre os poderes e perigos de um mundo tecnicamente mediado pela ciência. Assumindo que vivemos em um mundo social no qual a ciência tem claras prerrogativas na legitimação de ações, parece claro que a intuição acerca da agência dos elementos químicos tende a favorecer a ação daquele que a essa agência se associa. Este programa assume, portanto, que cada avanço no conhecimento acerca da agência social dos elementos químicos pode também ensejar um avanço na socialização do poder e da responsabilidade que ele oferece.

Este programa de pesquisa se iniciou em agosto de 2018, com o projeto PIBIC-EM “As formas elementares da vida eletrônica: a agência social dos elementos químicos metálicos usados na fabricação de smartphones“. Durante um ano, 3 estudantes de Ensino Médio (Guilherme Oliveira de Souza, Paulo V.M. Calixto e Pedro G.S.L. Paulino) me acompanharam, como bolsistas de Iniciação Científica (PIBIC-EM), em investigações acerca dos elementos cobre (29-Cu), ouro (79-Au) e chumbo (82-Pb). Além disso, o doutorando Stefano Schiavetto colaborou na elaboração de relatórios e posters, e foi iniciada a tradução do texto “Anatomy of an AI system” por mim e pela doutoranda Cristiana de Oliveira Gonzalez, com apoio de Pedro G.S.L. Paulino. Ainda nesse primeiro momento, foi criado o site Sociologia Elementar, onde passamos a publicar os avanços de nossas pesquisas sobre a agência social dos elementos químicos.

No ano seguinte (2019), o projeto foi renovado, e outros 3 bolsistas PIBIC-EM (Hingridy R. Messias, João P.G. Volpe e Victor E.S. Ferreira) passaram a desenvolver investigações acerca dos elementos lítio (3-Li) e prata (47-Ag). Além disso: foi concluída a tradução de “Anatomia de um sistema de IA” iniciada no ano anterior (essa tradução foi publicada no site da revista ComCiência em 2020); foi traduzido o infográfico “Elementos do smartphone“; e foram apresentados os primeiros resultados da pesquisa numa Prosa Sociológica do IFCH – “Sociologia elementar: investigando a agência social dos elementos químicos” -, no congresso da 4S em New Orleans (EUA) – “The elementary forms of electronic life: exploring metallic affects with Deleuze and Simondon” – e no XVIII Congresso {Virtual} de Iniciação Científica da Unicamp – “As formas elementares da vida eletrônica: a agência social de elementos químicos metálicos usados na fabricação de smartphones“.

Diversos fatores (em especial a pandemia de COVID-19) impediram a continuação do projeto PIBIC-EM em 2020, mas a pesquisa continuou de maneira informal, até que em 2021 o projeto foi retomado, dessa vez voltado para a investigação da agência de apenas um elemento químico: o silício (14-Si). Desta vez, 4 bolsistas PIBIC-EM se vincularam ao projeto (Bruna C.G. Queiroz, Gabriela L. Custódio, Letícia G.L. Neves e Pedro V. Carandina da Silva), e investigaram o silício na eletrônica, na saúde, na legislação e na moda. Os doutorandos Stefano Schiavetto e Fabiano G. Faleiros colaboraram na elaboração de relatórios e posters, e aspectos dessa pesquisa foram apresentados em 2021 no Seminário Internacional Simondon Indisciplinar – “Exploring the social agency of silicon in microelectronics” – e publicados em 2022 como capítulo do livro Máquina aberta: a mentalidade técnica de Gilbert Simondon – “O transindividual eletrônico: dos afetos metálicos ao diodo”.

Cabe ainda mencionar que, desde o início em 2018, venho realizando levantamentos sistemáticos de materiais ligados à agência de elementos químicos em geral e de elementos químicos particulares, muitos dos quais disponibilizo publicamente na forma de postagens no site da pesquisa, e internamente às equipes de pesquisadores na forma de coletâneas de documentos em formato pdf. Além disso, diversos estudantes de graduação da Unicamp contribuíram com o projeto por períodos variados de tempo como bolsistas BAS-SAE (com destaque para: Francisca D.C. Gomes, Gabriel H.A. Martins, Mateus Vicente, Thiago A.A. Torres e Thiago T. Yoshida), realizando levantamentos da presença de elementos químicos na Folha de S. Paulo, em livros selecionados, em websites específicos e em letras de músicas.

A agência social dos elementos químicos em letras de músicas como metodologia didática transversal para o Ensino Médio
Projeto financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - Ensino Médio (PIBIC-EM) da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pesquisador: Pedro P. Ferreira.
Número de bolsas: 3.
Duração: de 09/2022 a 08/2023.

As formas elementares da vida eletrônica: a agência social do elemento silício (14-Si)
Projeto financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - Ensino Médio (PIBIC-EM) da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pesquisador: Pedro P. Ferreira.
Número de bolsas: 3.
Duração: de 09/2021 a 08/2022.

A agência social dos elementos químicos: construção de infra-estrutura documental e funcional
Projeto financiado pela Bolsa Auxílio-Social (BAS), oferecida pelo Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pesquisador: Pedro P. Ferreira.
Número de bolsas: 6.
Duração: de 08/2019 a 07/2020.

As formas elementares da vida eletrônica: a agência social de elementos químicos metálicos usados na fabricação de smartphones (Parte II)
Projeto financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - Ensino Médio (PIBIC-EM) da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pesquisador: Pedro P. Ferreira.
Número de bolsas: 3.
Duração: de 08/2019 a 07/2020.

As formas elementares da vida eletrônica: a agência social de elementos químicos metálicos usados na fabricação de smartphones
Projeto financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - Ensino Médio (PIBIC-EM) da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pesquisador: Pedro P. Ferreira.
Número de bolsas: 3.
Duração: de 08/2018 a 07/2019.

Construção de infra-estrutura documental e funcional para projeto coletivo interdisciplinar
Projeto financiado pela Bolsa Auxílio-Social (BAS), oferecida pelo Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Pesquisador: Pedro P. Ferreira.
Número de bolsas: 3.
Duração: de 08/2018 a 07/2019.
    BRUNNING, Andy.
      2019. Elementos do smartphone. (Trads.: Pedro P. Ferreira; Hingridy R. Messias; João Pedro G. Volpe) Infográfico. [2014]

    CALIXTO, Paulo V.M.; SCHIAVETTO, Stefano; FERREIRA, Pedro P.

    CRAWFORD, Kate; JOLER, Vladan.

    FERREIRA, Pedro P.
      2019a. Sociologia elementar: investigando a agência social dos elementos químicos. Prosa Sociológica 19/06. IFCH/Unicamp, Sala Multiuso.
      2019b. The elementary forms of electronic life: exploring metallic affects with Deleuze and Simondon. In: Annual Meeting of the Society for the Social Studies of Science: Innovations, Interruptions, Regenerations (4S). New Orleans, EUA.
      2022a. O transindividual eletrônico: dos afetos metálicos ao diodo. In: Thiago Novaes; Lucas Vilalta; Evandro Smarieri (orgs.). Máquina aberta: a mentalidade técnica de Gilbert Simondon. São Paulo: Editora Dialética, pp.97-113.

    FERREIRA, Pedro P.; QUEIROZ, Bruna C.G.; CUSTÓDIO, Gabriela L.; CARANDINA DA SILVA, Pedro V.; FALEIROS, Fabiano G.; SCHIAVETTO, Stefano.
      2022. As formas elementares da vida eletrônica: a agência social do elemento silício (14-Si). XXX Congresso de Iniciação Científica da Unicamp. Campinas.

    FERREIRA, Pedro P.; MESSIAS, Hingridy R.; VOLPE, João P.G.; FERREIRA, Victor E.S.

    OLIVEIRA DE SOUZA, Guilherme; CALIXTO, Paulo V.M.; PAULINO, Pedro G.S.L.; SCHIAVETTO, Stefano; FERREIRA, Pedro P.

    OLIVEIRA DE SOUZA, Guilherme; SCHIAVETTO, Stefano; FERREIRA, Pedro P.

    PAULINO, Pedro G.S.L; SCHIAVETTO, Stefano; FERREIRA, Pedro P.