Pelo estudo sócio-técnico dos mecanismos de controle (Deleuze 1992)
Não há necessidade de ficção científica para se conceber um mecanismo de controle que dê, a cada instante, a posição de um elemento em espaço aberto, animal numa reserva, homem numa empresa (coleira eletrônica). Félix Guattari imaginou uma cidade onde cada um pudesse deixar seu apartamento, sua rua, seu bairro, graças a um cartão eletrônico (dividual) que abriria as barreiras; mas o cartão poderia também ser recusado em tal dia, ou entre tal e tal hora; o que conta não é a barreira, mas o computador que detecta a posição de cada um, lícita ou ilícita, e opera uma modulação universal. […] O estudo sócio-técnico dos mecanismos de controle, apreendidos em sua aurora, deveria ser categorial e descrever o que já está em vias de ser implantado no lugar dos meios de confinamento disciplinares, cuja crise todo mundo anuncia. […] O que conta é que estamos no início de alguma coisa.” (Deleuze 1992:224-5)
DELEUZE, Gilles. 1992. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In: Conversações 1972-1990. (trad. Peter P. Pelbart) Rio de Janeiro: Ed.34, pp.219-26. [1990]
Imagem: Heiko Hellwig