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Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia na ANPOCS Virtual 2025

Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia na ANPOCS Virtual 2025

49o Encontro Anual da ANPOCS – Programação Virtual.

GT11. Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia

Coordenadores(as): Daniela Alves de Alves (UFV); Pedro Peixoto Ferreira (DS/IFCH/Unicamp).

Sessão 01 – Tecnociências em debate

15/10/2025 das 13:30 às 16:30
Coordenador: Pedro Peixoto Ferreira (DS/IFCH/Unicamp)
Debatedor: Pedro Peixoto Ferreira (DS/IFCH/Unicamp)

  • Marco Antônio Gavério (PPGBIOS/FIOCRUZ) e Murilo Mariano Vilaça (Fundação Oswaldo Cruz) – A deficiência como operador conceitual tecnocientífico? Mapeando articulações entre melhoramento humano, transumanismo e incapacidade na produção acadêmica brasileira. Esta pesquisa, fruto de estágio de pós-doutorado financiado pela FAPERJ, investiga como a literatura acadêmica brasileira mobiliza as noções de deficiência, incapacidade, capacidade e otimização nos debates sobre melhoramento humano e transumanismo. Parte-se da hipótese de que, apesar da crescente inserção do tema no campo das humanidades, são raras as análises sistemáticas sobre a interseção entre esses debates e os estudos sobre deficiência. Questiona-se de que modo a deficiência é representada ou articulada nos discursos que projetam futuros pós-humanos e tecnocientíficos. Busca-se compreender se essa categoria funciona como diferença ou como operador conceitual nas disputas sobre corpo, normalidade e tecnologia.
  • Gabriel Pugliese Cardoso (UNIVASF) – A saída da eugenia: dietética e liberalismo. Essa comunicação visa problematizar a saída da eugenia, isto é, a maneira pela qual, as tecnologias biológicas de seleção artificial marcadas pelo controle da reprodução humana – na medida em que encontraram diversos bloqueios ético-políticos em torno de valores liberais – aclimataram-se em um novo domínio, a nutrição, a partir de uma gramática renovada de otimização do corpo. Explorar-se-á as controvérsias entre nutrólogos inventores da dietética racional como modelo de controle da nutrição e eugenistas que se apoiavam no controle da reprodução através da sexualidade. Essa disputa científica, que tem seu momento chave entre os anos 1920 e 50, estrutura duas estratégias de gestão biopolítica no campo da saúde que se orientavam pela finalidade de extração máxima de energia da população. Pretende-se explorar a confiscação e a transformação de saberes e das tecnologias médicas e biológicas em relação com as crises de governamentalidade liberais na primeira metade do século XX no Brasil.
  • Emília Braz (UFRGS) – “O que são os desreguladores endócrinos?”: uma investigação etnográfica sobre a desregulação endócrina. Desde quando iniciei minha pesquisa de doutorado, é comum ouvir a pergunta “o que são desreguladores endócrinos?”. A este questionamento rapidamente respondia que “desreguladores endócrinos (DEs) são substâncias químicas exógenas sintéticas que interferem com qualquer aspecto da ação hormonal” (Gore et al, 2014), uma definição endocrinológica proveniente dos documentos médicos nos quais estou fazendo pesquisa de campo. Contudo, partindo da produção socioantropológica pautada nos estudos feministas da ciência sobre teoria hormonal, passei a questionar a neutralidade e objetividade, assim como aplicabilidade e imediaticidade de tal definição. Nesta apresentação, proponho tratar tal pergunta como um ponto de partida para investigar etnograficamente as in/determinações ontológicas e epistêmicas (onto-epistêmicas) e as materializações dos DEs, isto é, seus efeitos no mundo a partir dos registros médico, popular (divulgação científica) e artístico (cinema, literatura e performance).

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Sessão 02 – Práticas científicas

16/10/2025 das 13:30 às 16:30
Coordenador: Pedro Peixoto Ferreira (DS/IFCH/Unicamp)
Debatedora: Daniela Alves de Alves (UFV)

  • Leonardo Calau da Cruz (FFLCH/USP) – A provocação e os seus provocadores. Steve Woolgar (2022, p. 182) enumera algumas das sensibilidades fundamentais dos pesquisadores que propõe embarcar no projeto da STS. Dentre elas a propensão a causar problemas, a tendência a debater temas conceitualmente difíceis e o manejo para deflacionar afirmações teóricas grandiloquentes sem perder a ênfase em questões locais e contingentes. Mas uma das sensibilidades é apresentada como fundamental: a provocação. (WOOLGAR, 2022, p. 183). Mas o que é a provocação e qual a sua relação com os estudos que propõe estudar a ciência, a tecnologia e o conhecimento? Para responder a questão de maneira provocativa será analisado um dos arcos narrativos da sátira conspiratória “Birds Aren’t Real”.
  • Mariana Petruceli (UnB) – Entre redes e recrutamentos: quando pesquisadores e pesquisados se encontram nas Ciências do Zika. A resposta científica em emergências sanitárias depende de uma ampla gama de recursos acionados por redes de pesquisadores. Latour (1987), Traweek (1998) e Fleischer & Valim (2025) mostram que essas redes são formadas por pessoas, objetos, instituições e dados em circulação. Entre 2022 e 2025, integrei um projeto sobre a produção de conhecimento durante a epidemia do Zika em Recife/PE. Realizamos 93 entrevistas com profissionais da saúde que atuaram entre 2015 e 2017, quando a emergência sanitária estava em voga. Um tema recorrente foi o recrutamento de participantes, questão central na Antropologia da ciência (Epstein, 2008, 2010; Petryna, 2011). A partir de Knorr-Cetina (1981), proponho discutir os participantes como recurso relacional fundamental, em especial nas Ciências do Zika, onde ocupam papel ativo na crítica às pesquisas. Meu objetivo é explorar como se constroem essas relações e as negociações em torno do recrutamento.
  • Thamara Rosa Pedro (UFMG) e Victor Luiz Alves Mourão (UFV) – Conhecimentos canábicos: processo de formação de carreira dos pesquisadores. Esta pesquisa integra o projeto Conhecimentos Canábicos: ciência e política nas pesquisas com/sobre cannabis no Brasil, que busca analisar sociologicamente a produção científica sobre cannabis em universidades brasileiras. Este trabalho, em particular, examina o caso da Universidade Federal de Viçosa (UFV), bem como da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade de São João del-Rei (UFSJ) e Universidade Federal da Paraíba (UFPB) com o objetivo de identificar o perfil dos pesquisadores da área e compreender os processos pelos quais se especializam em pesquisas sobre cannabis. A investigação parte da perspectiva sociológica proposta por Becker (1963), adaptando a ideia de trajetória de socialização — “como se torna um usuário de maconha?” — para o campo da ciência: “como se torna um pesquisador de cannabis?”.
  • Larissa Aparecida Prevato Lopes (UNICAMP) e Milena Pavan Serafim (UNICAMP) – Conhecimento Científico e Política: Organizações de Assessoramento Informacional Legislativo em Perspectiva Comparada. As associações entre conhecimentos científicos e os processos de tomada de decisão política podem assumir diferentes contornos, a depender das intencionalidades dos agentes, dos posicionamentos dos atores no jogo político e até mesmo do entendimento dos decisores sobre as temáticas em debate. A complexidade dos assuntos em discussão e as assimetrias de acesso à informação entre os representantes eleitos são frequentemente apontadas como questões que influenciam negativamente os debates nas arenas decisórias. Muito se discute sobre a necessidade de fundamentar as decisões políticas com informações verificáveis, principalmente sobre temas considerados altamente especializados, como aqueles relacionados à Ciência e Tecnologia. Apesar das aparentes incompatibilidades entre espaços de produção/ divulgação de ciência e ambientes políticos é possível identificar em diferentes países a presença de organizações de assessoramento informacional, cuja função é articular ciência e política.

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Sessão 03 – Tecnologias em contexto

17/10/2025 das 13:30 às 16:30
Coordenadora: Daniela Alves de Alves (UFV)
Debatedor: Marko Monteiro (UNICAMP)

  • Elismênnia Aparecida Oliveira (UFG) e Francy Eide Nunes Leal (IFG) – Tecnologias sociais e seus territórios: um estudo de caso a partir de uma pesquisa-ação com profissionais da educação. Este artigo aborda a utilização das Tecnologias Sociais (TS) para a elaboração de ferramentas, ações e atividades voltadas ao campo da educação, com ênfase nas temáticas de gênero, raça, etnia, diversidade cultural e cidadania. Os resultados parciais apresentados derivam de oficinas temáticas, nas quais empregamos um aporte teórico-metodológico transdisciplinar e das TS na Educação com o objetivo de mapear e propor intervenções direcionadas às demandas do grupo. Assim, fundamentados na execução de etapas de pesquisa, ensino e extensão, buscamos implementar e produzir conhecimentos estruturados nos princípios da TS, como a sustentabilidade e autonomia, construção de redes de apoio e comprometimento com a justiça social. Ao mesmo tempo, esse processo ocorreu em conjunto com a análise teórica das TS e sua confluência com estudos da epistemologia feminista, sociologia digital, estudos subalternos e decoloniais, que também tematizam a tecnologia e sua relação com diferentes territórios.
  • Thiago Novaes (Faperj/UFF) – Arqueologia da Tecnomagia: Simondon e Haraway visitam os sítios megalíticos do Peru e Egito. Considerando uma vasta literatura de referência que evidencia o contraste entre narrativas arqueológicas consolidadas sobre ferramentas primitivas, isolamento cultural e simbolismo religioso, em contraste com anomalias tecnológicas e culturais observadas em sítios megalíticos andinos e egípcios (precisão, escala, técnicas de construção e artefatos que sugerem alta tecnologia), como as ciências sociais, em articulação com a filosofia da técnica, podem construir modelos alternativos de investigação, epistemologicamente orientados, que levem à validação ou à supressão de diferentes “imaginários tecnocientíficos” sobre o passado? Qual o papel da divulgação científica, e das próprias instituições acadêmicas, na negociação entre o que é considerado conhecimento “legítimo” e as interpretações alternativas que emergem da observação empírica, especialmente quando estas desafiam dogmas estabelecidos e questionam a própria capacidade de civilizações ancestrais?
  • Jorge Wilton da Silva Santos Junior (USP), Marina Provençano Del Rei (USP) e Matheus Vinicius Gomes de Lima (USP) – Filtrando o desejo: marcadores sociais da diferença e homonormatividade no Grindr. Esta pesquisa propõe investigar o Grindr como espaço de disputas políticas atravessadas por algoritmos, desejos e desigualdades. A partir das relações de poder mediadas por marcadores sociais como raça, idade, gênero, sexualidade, sorologia, corpo (gordofobia) e classe, busca-se compreender de que forma o uso do “filtro de etnia” pode reforçar ou tensionar dinâmicas de exclusão dentro da própria comunidade LGBTQIA+. A análise articula o mapeamento de controvérsias (Latour, 1994), a teoria das cenas (Paiva, 2000) e o conceito de homonormatividade (Mowlabocus, 2021), tomando o Grindr como possível dispositivo de produção e regulação do desejo. Parte-se da hipótese de que as interações entre sujeitos, algoritmos e interfaces participam da coprodução de identidades, levantando questões sobre quem é desejado, ouvido ou reconhecido nesses circuitos digitais.
  • Juliane Cristina Helanski Cardoso (UNICAMP) – Do cartão perfurado à inteligência artificial: a máquina de Hollerith e as lógicas da computação contemporânea. É possível investigar práticas científicas e tecnológicas ligadas a um centro de pesquisa em inteligência artificial por meio da análise da agência de um objeto técnico do final do século XIX? Este trabalho acredita que sim, ao propor um estudo sobre a máquina de cartões perfurados de Herman Hollerith (1860–1929), usada nos primeiros censos demográficos automatizados da história. Ao conectar esse objeto técnico a dois eventos históricos, o censo dos Estados Unidos de 1890 e o Holocausto na Alemanha nazista, busca-se compreender como a agência da máquina, entendida como seu poder lógico (codificação), expressivo (decodificação) e moralmente ambíguo, permanece ativa em práticas contemporâneas de pesquisa em inteligência artificial.
  • Leticia Pereira Simões Gomes (NEV/USP) – Práticas digitais em um Centro de Operações 190. O paper analisa como sistemas digitais e bancos de dados são usados no despacho e alocação de recursos policiais, explorando as narrativas que articulam tecnologia e trabalho. Primeiro, discuto como interações sociais tensas são codificadas nas mediações entre solicitantes, operadores, despachantes, patrulheiros, e tecnologias: que informações são priorizadas ou descartadas, e como o sistema de despacho enquadra situações complexas. Depois, analiso as práticas dos despachantes, focando no acesso a bancos de dados e na seleção de informações úteis para as patrulhas. Diante de sistemas paralelos integrados manualmente, vê-se o trabalho como uma “gincana” para descobrir suspeitos, em que as tecnologias digitais são essenciais. Por fim, discuto a territorialidade do policiamento via chamados 190, mostrando como a alocação de recursos divide áreas entre estratégias baseadas em análise criminal (policiamento inteligente) e respostas reativas a emergências (“apagar incêndios”).
  • Pedro Henrique Santos de Sales (UFRGS) – Os Estudos Sociais em Ciência e Tecnologia na atualidade: uma revisão literária do campo nos programas de pós-graduação do Brasil. O presente trabalho tem como objetivo analisar a produção acadêmica sobre os Estudos Sociais em Ciência e Tecnologia (ESCT) nos programas de pós-graduação do Brasil. O campo dos ESCT caracteriza-se por investigar, a partir de abordagens e metodologias das ciências sociais (PREMIDA; NEVES; ALMEIDA, 2011), os processos de produção, circulação e os impactos sociais da ciência e da tecnologia. Considerando o crescimento de estudos sociais sobre ciência e tecnologia no Brasil nas últimas décadas (ANDRADE, 2007), busca-se mapear onde e como os ESCT têm sido incorporados na produção acadêmica avançada.

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Obs.: a programação do GT apresentada aqui não coincide com a presente no site da ANPOCS, pois: incorporou a troca dos dias da apresentação de Pedro H. Santos de Sales e nos quais Pedro Ferreira e Marko Monteiro seriam debatedores; e incluiu apenas os trabalhos efetivamente apresentados nas sessões.

Registros fotográficos das sessões 2 e 3

Sessão 2 – 16/10/2025 das 13:30 às 16:30

Sessão 3 – 17/10/2025 das 13:30 às 16:30