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Perfeição técnica <em>chez</em> Simondon (2008 [1958])

Perfeição técnica chez Simondon (2008 [1958])

ORIGINAL
Empiriquement et extérieurement, on peut dire que la perfection technique est une qualité pratique, ou tout au moins le support matériel et structural de certaines qualités pratiques; ainsi, un bon outil n’est pas seulement celui qui est bien façonné et bien taillé. Pratiquement, une herminette peut être en mauvais etat, mal affûtée, sans être pourtant un mauvais outil; une herminette est un bon outil si d’une part elle possède une courbure convenant à une attaque franche et bien dirigée du bois, et si d’autre part elle peut recevoir et conserver un bon affûtage même lorsqu’on l’emploie pour travailler dans les bois durs. Or, cette dernière qualité résulte d’un ensemble technique qui a servi à produire l’outil. C’est comme élément fabriqué que l’herminette peut être faite d’un métal dont la composition varie selon les différents points; cet outil n’est pas seulement un bloc de métal homogène façonné selon une certaine forme; il a été forgé, c’est-à-dire que les chaînes moléculaires du métal ont une certaine orientation qui varie avec les endroits, comme un bois dont les fibres seraient disposées pour offrir la plus grande solidité et la plus grande élasticité, tout particulièrement dans les parties intermédiaires entre le fil du tranchant et la partie plate et épaisse qui va de l’oeillet au tranchant; cette région proche du tranchant se déforme élastiquement au cours du travail, car elle opère comme un coin et un levier sur le copeau de bois en train de se lever. Enfin, l’extrême tranchant est aciéré plus fortement que toutes les autres parties; il doit l’être fortement, mais d’une manière bien délimitée, sinon une trop grande épaisseur de métal aciéré rendrait l’outil cassant, et le fil se briserait par ecláts. Tout se passe comme si l’outil dans sa totalité était fait d’une pluralité de zones fonctionnellement différentes, soudées les unes aux autres. L’outil n’est pas fait seulement de forme et de matière; il est fait d’éléments techniques élaborés selon un certain schème de fonctionnement et assemblés en structure stable par l’opération de fabrication. L’outil recueille en lui le résultat du fonctionnement d’un ensemble technique. Pour faire une bonne herminette, il faut l’ensemble technique de la fonderie, de la forge, de la trempe. (Simondon 2008:71-2)

TRADUÇÃO
Empiricamente e externamente, podemos dizer que a perfeição técnica é uma qualidade prática, ou pelo menos o suporte material e estrutural de certas qualidades práticas; assim, uma boa ferramenta não é apenas aquela que é bem fabricada e bem talhada. Na prática, um enxó pode estar em más condições, mal afiado, sem no entanto ser uma ferramenta ruim; um enxó é uma boa ferramenta se por um lado tiver uma curvatura adequada para um ataque limpo e bem dirigido à madeira, e se por outro lado puder receber e manter uma boa afiação, mesmo quando utilizada para trabalhar em madeiras duras. Ora, esta última qualidade é o resultado de um conjunto técnico que serviu para produzir a ferramenta. É como elemento fabricado que o enxó pode ser feito de um metal cuja composição varia de acordo com os diferentes pontos; essa ferramenta não é apenas um bloco homogêneo de metal moldado em uma determinada forma; foi forjado, ou seja, as cadeias moleculares do metal têm uma certa orientação que varia com os lugares, como uma madeira cujas fibras estariam dispostas para oferecer a maior resistência e a maior elasticidade, especialmente nas partes intermediárias entre o fio do gume e a parte plana e grossa que vai do ilhó ao gume; essa região próxima do gume se deforma elasticamente durante o trabalho, pois atua como uma cunha e uma alavanca no cavaco de madeira ascendente. Por fim, a borda cortante é mais rica em aço do que todas as outras partes; deve sê-lo fortemente, mas de forma bem delimitada, pois uma espessura excessiva de aço tornaria a ferramenta frágil e o fio se estilhaçaria. Tudo se passa como se a ferramenta como um todo fosse feita de uma pluralidade de zonas funcionalmente diferentes, soldadas umas às outras. A ferramenta não é feita apenas de forma e de matéria; ela é feita de elementos técnicos elaborados segundo um derto esquema de funcionamento e montados numa estrutura estável pela operação de fabricação. A ferramenta reúne em si o resultado do funcionamento de um conjunto técnico. Para fazer um bom enxó, é necessário o conjunto técnico da fundição, da forja, da têmpera. (Simondon 2008:71-2)

SIMONDON, Gilbert. 2008. Du mode d’existence des objets techniques. Paris: Aubier-Montaigne. [1958]

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